sábado, abril 30, 2005

Hora de Alegria

Yer Blues

"Yes I'm lonely wanna die
Yes I'm lonely wanna die
If I ain't dead already
Ooh girl you know the reason why.

In the morning wanna die
In the evening wanna die
If I ain't dead already
Ooh girl you know the reason why.

My mother was of the sky
My father was of the earth
But I am of the universe
And you know what it's worth
I'm lonely wanna die
If I ain't dead already
Ooh girl you know the reason why.

The eagle picks my eye
The worm he licks my bone
I feel so suicidal
Just like Dylan's Mr. Jones
Lonely wanna die
If I ain't dead already
Ooh girl you know the reason why.

Black cloud crossed my mind
Blue mist round my soul
Feel so suicidal
Even hate my rock and roll"

Tem coisas que só os Beatles fazem por você.

escrito ao som de The Beatles - White Album

quarta-feira, abril 27, 2005

Mãe e Filha

Logo no café-da-manhã. A mãe e a filha comendo torradas com manteiga.

Como quem não quer dizer nada.

- Mamãe, ontem...

Desinteressada, boca na torrada e olhos no jornal.

- Que que você disse, Rosinha?

Olhando para baixo, como quem quer dizer algo.

- Ontem, mamãe.

Interessada, boca no jornal e olhos na torrada.

- O quê?

Explodindo, como quem quer dizer tudo.

- No banho, mamãe, eu enfiei minha mão entre as pernas e...

Logo no café-da-manhã. A mãe e a filha, bocas paradas. Torrada no prato.

II

Pouco depois, a mãe na sala, discando o telefone. A filha, ouvido na porta, tentando entender.

- Arnaldo, você não vai acreditar! O primeiro orgasmo, querido! Da Rosinha! Ontem, no banheiro! É, amor, onze anos! Não é uma maravilha? E a gente apreensivo com alguma coisa...vê se pode...

Retirou o ouvido, fechou a cara, botou a mochila e saiu sem nem se despedir. Inventara aquela história na esperança de chocar profundamente a mãe, desesperá-la, se possível. No ônibus da escola, chorou o dia em que a outra, num acesso de bondade, deu sua boneca preferida para a neta da empregada, cinco anos mais nova.

Na sala, a mãe, extasiada:
- A minha menina já é uma moça.

segunda-feira, abril 25, 2005

Coisas que aprendo com os filmes....

Se você por acaso encontrar com um cego misterioso na rua, é mentira. Ele sabe enxergar. Se for cega também.

Outra...se você for um trapaceiro e achar que está se dando bem em cima daquele seu parceiro meio idiota, tome muito cuidado. No fundo, ele está combinado com todos os seus conhecidos pra te sacanear.

Ah, os roteiros-clichês. Tanto eles nos ensinam e tão pouco apreendemos...

p.s: Caros leitores, desculpe pelo sumiço. Passei uma semana muito atarefada, dedicadas a coisas importantíssimas, como sono, sono, viagem e sono. Mas voltei, e agora é pra ficar, pois aqui, aqui é o meu lugar. Que ninguém cometa suicídio mais por minha ausência.

escrito ao som de Vampyros Lesbos - The Sexadelic Dance Party

segunda-feira, abril 18, 2005

saudade

de recém-nascer de novo, a fala embaralhado, o cérebro confuso e o olhar perdido de quem vê o mundo pela primeira vez; de sentir os clichês, todos, sempre; de entrelaçar os dedos nos dedos, o corpo no corpo e a alma na alma feito arame; de inventar uma nova linguagem, secreta, impenetrável; de mutilar a noite com telefonemas inacabados; de perder o dia com devaneios insólitos; de deitar abraçado e logo depois virar para o lado, pois é mais confortável; de imaginar novelas globais quando ela não está; de sentir ódio às vezes, e mesmo jurar não perdoá-la nunca mais; de perdoar e não se arrepender; de perdoar e se arrepender; de ser perdoado e vê-la se arrepender; de chorar, fino, disfarçando, quando ela sabe que você está triste; de chorar, fino, disfarçando, quando ela acha que você está triste; de não saber mais quando está triste ou feliz; de perder os segredos, a privacidade, a vida anterior; de sentir falta disso tudo, mas calar a boca; de não sentir falta de nada disso, mas reclamar; de ver o transcendental se transformando em prosaico; de saber no prosaico também o transcendental; de imaginar por dias a fio o presente perfeito, e comprar o errado; de achar que a pior coisa do mundo é vê-la chorar; de errar, o tempo todo; de brigar, e passar a noite acordado; de saber que existe nela aquele detalhe que só você conhece, aquele gosto específico, aquela pessoa que é somente sua; de prender o choro em filmes românticos de quinta categoria; de acreditar nela a razão de sua vida; de mandar flores; de parar de mandar flores; de coçar o saco e arrotar na frente dela, a cara de nojo estampada; de rir, juntos; de não ter mais do que rir; de não ter mais porque chorar; de ver que tudo acabou, de vez, mais uma vez, pela última vez, e reclamar o tempo perdido.

***

é, estou precisando urgentemente de uma namorada.

escrito ao som de Caetano Veloso - Qualquer Coisa

sexta-feira, abril 15, 2005

A Boca

quem a vê
sorridente
passar pela rua

mal sabe
que no céu da boca
não há estrelas

o cho
   ro
en
  ta
   la
    do
na
garganta

a lingua
à mingua
na prisão
dos dentes

a boca
  oca
  o

bangue-bangue
       bangu
ela

[o dentista e o fotógrafo logo reclamam!]

quem a vê
sorridente
passar pela rua

mal sabe
que dentro da boca
a poesia

não faz saliva

quinta-feira, abril 14, 2005

série antiarte - infância pt. 1

do algodão-doce, queria o doce, não o algodão.

terça-feira, abril 12, 2005

Good Morning Sunshine

Não, não estou repentinamente feliz. A vida é um pouco mais complexa que isso. Mas tampouco quero ficar reclamando e entediando o leitor. A vida é um pouco mais divertida que isso. Esse post, portanto, não será sobre sentimentos à flor da pele, filosofias de mesa de bar - e teclados de computador - ou qualquer baboseira do tipo, e sim sobre a maior das baboseiras, a música. (percebo em meus posts uma maior incidência de comentários musicais que cinematográficos. será isso um sinal negativo para um estudante aplicadíssimo como eu?)

Nunca fui um sujeito exatamente musical. Mesmo tendo uma banda há uns cinco anos - ou quase tendo - as inclinações literárias e cinematográficas sempre foram em mim mais fortes. Não é simplesmente a falta total de coordenação motora o fator responsável pelo fracasso de minhas várias tentativas em aprender algum instrumento, portanto. Um largo hd, uma conexão a cabo e a tendência a gastar a vida em frente a uma máquina promovem, porém, certas modificações no cotidiano de um ser humano facilmente influenciável como eu.

Uma das poucas grandes diversões que tenho aqui no computador - aliás, não sei porque passo tanto tempo aqui, é chato pra cacete! - é baixar indiscriminadamente qualquer cd que em algum momento dos últimos dias eu tenha tomado conhecimento, não importando ritmo, nação ou presença nas paradas. O resultado de tal impulso psicopata é a existência de diversos artistas que, mesmo estando presentes aqui em casa há um tempo, não tiveram a oportunidade de ser devidamente escutados. Outros, porém, baixados na mesma situação, espremidos entre tantos, não saem de meus fones de ouvido. Pus-me, assim, a pensar...

Por que aqui se toca mais Kinks que The Who? Mais Beatles que Rolling Stones? Mais Beach Boys que Led Zeppelin? Talvez por serem simplesmente melhores, é verdade, mas também por uma razão bem mais simples: atualmente, eu simpatizo mais com os primeiros, pronto! Tomado isso como resposta, resolvi dar uma passada no allmusic para mapear meu gosto - não sou um cara metódico, apenas entediado mesmo-. Descobri, surpreendentemente, que boa parte de meus grupos de rock preferidos está entrelaçada dentro dos rótulos "psychodelic pop", "baroque pop" e "sunshine pop". Percebam bem, leitores, que agora vem o pulo do gato... eu descobri, surpreendentemente, que os meus grupos de rock preferidos fazem na verdade POP! No caso, o que eu chamo de "pop com lsd", mas mesmo assim...

Minha alma, que sempre se acreditou roqueira, sofreu um baque ao realizar que curte mais melodias elaboradas que riffs repetidos, pianos que guitarras, harmonias vocais "uaú" que gritos desafinados, arranjos complexos que sujeira, enfim, pop que rock. Ouço com prazer qualquer artista desses dos fins dos anos 60, desde os superiores - Beatles, Beach Boys, Kinks, Harry Nillson - aos toscos - Turtles, Zombies, Monkees, Herman Hermit's - simplesmente porque é bom pra caralho, porra! Não vou passar o dia inteiro balançando a cabeça com AC/DC por obrigação cívica.

Bem, mas por que eu falei tudo isso, de qualquer forma? Talvez para tentar popularizar a expressão "lsd pop"; talvez pra convencer você, leitor(a) bunda-mole, a ouvir alguma das bandas acima citadas; mas provavelmente para expurgar uma culpa que me perseguiu a vida inteira. Gostar de Elton John não é uma idiossincrasia minha. O cara é foda e pronto.

p.s: Não, leitor(a) espertinho(a), Celine Dion e Spice Girls não são boas bases para se chegar aos Beach Boys. Melhor começar com a trilha do Rei Leão mesmo.

escrito ao som de Elton John - Honky Chateau

domingo, abril 10, 2005

Eu

Homem, branco, heterossexual e com dinheiro. Mais classe dominante, impossível.

Pais casados, dois irmãos, cãozinho. Família ajustada segundo a lógica filhinhos loirinhos sorrindo no campo. Aquela que varre a sujeira para debaixo do tapete, sabendo que nunca será encontrada.

Sem grandes - ou pequenas - tragédias. Nem terremoto, morte de pessoa querida, sequestro, trauma de infância, ou ao menos uma tartaruga caída na cabeça enquanto passeava pela rua. Nada.

Homem saudável, na medida do possível. Sem sintomas de epilepsia, hipocondria, obesidade, depressão, witzesucht... No máximo uma timidez incurável e uma tendência a ser anti-social, mas nada disso conta.

No fundo, sou apenas aquele típico burguês preguiçoso que escreve para aplacar o tédio, pois o tédio é tudo que o burgês preguiçoso verdadeiramente tem. Quando a vida bate à minha porta, me escondo. Minha arte é fútil, superficial, racional. Não há como ser diferente.

Sinto uma estranha inveja daqueles que carregam em si problemas insolúveis, depressões justificadas, sentimentos radicais. Que sofrem de doenças desconhecidas, tragédias inomináveis, traumas eternos. Que morrem a cada dia, minuto, segundo. Que guardam o mundo dentro do corpo. E sofrem por isso.

Uma estranha inveja daqueles que, com uma única palavra jorrada no papel, revelam mais vida do que a minha vida inteira revelou.

escrito ao som de Funkadelic - One Nation Under A Groove

sexta-feira, abril 08, 2005

Previsões Imprevisíveis pt. 1

Daqui a 10 ou 20 anos, quando os críticos musicais revirem o ambiente da virada dos anos 90 para os 2000, serão eleitos como os grandes revolucionários não Radiohead, Strokes ou uma banda indie qualquer, mas Justin Timberlake, Britney Spears e Jay-Z, entre outros.

Mas por que, oraculo? Simples... em toda a história recente da indústria cultural os artistas vistos como simples bobagens comercialóides para a multidão de adolescentes consumidores viraram exemplo de evolução não só musical, mas cultural, comportamental e outros tais do ramo. Como exemplos, posso citar Frank Sinatra, Elvis Presley, Michael Jackson, Prince e, principalmente, os Beatles, provavelmente - para não dizer sem dúvida - a banda mais importante do século XX, formatadora da indústria pop como é conhecida.

Em termos estritamente musicais, os pesquisadores terão descoberto nos artistas citados mais acima a perfeita mistura do POP - e me parece bastante óbvio que não estou aqui falando de jazz nem nada do porte - com ritmos iminentes no cenário musical - eletrônica, hip-hop, elementos latinos, etc. -. Bandas como Backstreet Boys (ah! os intrincados arranjos vocais!) ou J-Lo (ah! o suíngue!) talvez ganhem o status de cult, como os Monkees hoje em dia. Vejam bem, não estou falando de gosto pessoal, mas de influência futura.

Se hoje em dia já há uma reconsideração dos determinados artistas - entre as canções preferidas do Pitchfork no ano estão Toxic e Yeah! - com o tempo ela será total, e nós, coroas, teremos duas opções: fingir que gostamos desde o início ou dizer que no nosso tempo a música era muito superior. Caro leitor, escolha o seu lado da moeda.

escrito ao som de John Coltrane - My Favorite Things

quarta-feira, abril 06, 2005

Rua do Quarto do Mundo

Há nas pedras portuguesas em que piso
Um tanto de gozo e outro de sangue,
Um desassossego calado e tímido
Que descansa neste peito sempre insone.

Há na alma estrangeira em que vivo
Um eterno quê de pedra ou de fado,
Como se de fardo fosse meu destino
Resguardando cada um de meus pecados.

Há nas pedras portuguesas em que vivo
Um pouquinho de Brasil outro de nada,
Um amor que se esconde atrás dos livros
Ou na fresta de uma pátria enterrada.

Há no mundo tão covarde em que peco
Uma rima quinda não foi inventada,
Uma pedra portuguesa de brinquedo,
Uma alma-brasa que me vem calada.

Há em meu corpo um não sempre presente,
Que insisto em fazer de minha estrada.

escrito ao som de Al Green - I'm Still In Love With You

terça-feira, abril 05, 2005

antiarte - IIII -

advérbio de negação;
advertising.

[fim]

escrito ao som de Isaac Hayes - Presenting Isaac Hayes

Verdades Insofismáveis da Vida - I -

Aprende-se mais ouvindo Pet Sounds do que com qualquer aula da Uff.

p.s: Pet Sounds pode ser substituido por Revolver, Tábua de Esmeraldas, Village Green, Innervisions, Superfly, Otis Blue, Tim Maia Racional...

p.p.s: aula da Uff pode ser substituido por qualquer aula de qualquer faculdade.

segunda-feira, abril 04, 2005

antiarte - III -

advérbio de negação;
verbo.

escrito ao som de Beach Boys - Pet Sounds

letrinha

[cá publico uma letra de música - letra de música não é poesia, salvo em raros casos não o meu - sem música, ainda. tenho grandes problemas com ela...é politizadinha e revoltadinha de mais pro meu gosto. mas como não tenho nada melhor pra postar hoje...que entre o riff de guitarra!]

O Flaneur

Tendo todo o tempo dando um jeito
Só pra que eu seja um homem direito
Fazendo parte desse enorme mundo
Mamãe, quero ser só um vagabundo

Perambulando pela rua errada
À espera de algumalma mal amada
Fingindo essa tristeza tão sadia
Buscando em cada órgão poesia

E quando tudo for perfeito
Eu vou explodir o meu peito
E quando não houver saída
Eu estuprar a vida

Tendo todo o mundo dando um tempo
À espera de um novo documento
Um livro de auto-ajuda na estante
Mamãe, quero ser só um figurante

Flanando por memórias descabidas
Caídas de qualquer encarnação
No chão de uma grande avenida
Perdidas em alguma contramão

E quando tudo for perfeito
Eu vou explodir o meu peito
E quando não houver saída
Eu vou estuprar a vida

antiarte - II -

advérbio de negação;
sim.

links

bem, como voce, caro leitor, pode ver, criei uma seção de links em meu blog. pretendo aumentá-la, e para isso conto com seu apoio. indique novos blogs que eu darei uma visita, e, se gostar, incluirei nesse humilde espaço. ah, e recomendo uma visita aos blogs aqui recomendados. não são apenas de amigos meus, são bons. e é isso que importa.

escrito ao som de The Thrills - So Much For The City

sábado, abril 02, 2005

antiarte

advérbio de negação;
não.

escrito ao som de Tom Zé - Estudando O Samba

sexta-feira, abril 01, 2005

dropses de menta

dadá

gugú

-

temos um problema irreconciliável; voce é feliz demais pra mim.

-

não se iluda; minha paixão por voce não é mérito seu, é culpa minha.

-

atravessou a rua novamente sem olhar pros lados; novamente, não foi atropelado.

-
p.s - alguém sabe como botar link de outros nesse template do blogspot - interrogação.

escrito ao som de dEUS - Ideal Crash