quarta-feira, abril 27, 2005

Mãe e Filha

Logo no café-da-manhã. A mãe e a filha comendo torradas com manteiga.

Como quem não quer dizer nada.

- Mamãe, ontem...

Desinteressada, boca na torrada e olhos no jornal.

- Que que você disse, Rosinha?

Olhando para baixo, como quem quer dizer algo.

- Ontem, mamãe.

Interessada, boca no jornal e olhos na torrada.

- O quê?

Explodindo, como quem quer dizer tudo.

- No banho, mamãe, eu enfiei minha mão entre as pernas e...

Logo no café-da-manhã. A mãe e a filha, bocas paradas. Torrada no prato.

II

Pouco depois, a mãe na sala, discando o telefone. A filha, ouvido na porta, tentando entender.

- Arnaldo, você não vai acreditar! O primeiro orgasmo, querido! Da Rosinha! Ontem, no banheiro! É, amor, onze anos! Não é uma maravilha? E a gente apreensivo com alguma coisa...vê se pode...

Retirou o ouvido, fechou a cara, botou a mochila e saiu sem nem se despedir. Inventara aquela história na esperança de chocar profundamente a mãe, desesperá-la, se possível. No ônibus da escola, chorou o dia em que a outra, num acesso de bondade, deu sua boneca preferida para a neta da empregada, cinco anos mais nova.

Na sala, a mãe, extasiada:
- A minha menina já é uma moça.

|