sexta-feira, março 18, 2005

A mulher que não apagava a luz

Quando chorávamos, eu e ela virávamos nossos rostos para lados opostos da cama e silenciávamos nossos soluços. Essa era a única forma de manter as lágrimas invisíveis, as faces impassíveis e a calma em nossas vidas. No escuro, pode-se fingir existências e manusear sentimentos, mas, e talvez por isso, ela não gostava do breu. Dormíamos com as luzes acesas e, desde que elas não cegassem nossos sentidos, a verdade era exposta, irremediavelmente exposta ao olho iluminado do outro. Com o tempo, desenvolvemos artimanhas para que pudéssemos fugir da claridade, mas com o tempo, já nos conhecíamos bem demais, e não necessitávamos nem de um feixe de luz.

- Amor...
- ....
- Amor ...
- hmmm...
- Eu te amo!

Assim apagava a mudez, mas para ela não havia diferença. Meus olhos, meus toques, meus bafos e meus beijos, tudo em mim já era holofote.

escrito ao som de Roberto Carlos - Roberto Carlos 1969

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