domingo, março 06, 2005

Oscar e Eu

Bem, como um estudante de cinema aplicado - hahahahahaha! - posto aqui minhas impressões sobre os filmes indicados ao Oscar. Você, caro leitor resmungão, pode argumentar que o Oscar já passou faz uma semana e caso eu não saiba o Eastwood deixou o Scorsese com cara de bunda novamente - e infelizmente - e blá blá blá blá blá. Sim, prezado leitor irritadinho,você está absolutamente certo, mas como um estudante de cinema aplicado - claques de sitcom agora, por favor - resolvi postar meus comentários apenas quando tivesse visto todos os filmes concorrentes. Sim, é verdade, leitor chato e espertinho, eu não vi todos os filmes concorrentes, nem uma semana depois do Oscar. Mas como Ray vai ficar no mínimo pro dvd e daqui a seis meses esse papo de impressão vai estar um pouco antigo eu quero que você, animado leitor, se foda.

Em Busca da Terra do Nunca: O piorzinho, em minha opinião. Vejam bem, não achei uma merda, mas também está longe da maravilha sensível que muitos apregoam. A dicotomia sempre presente entre fantasia e realidade - deixada clara pela montagem -, o tom pomposo e dramático, os clichês de sempre impedem o filme de ir além de um drama bonitinho e razoavelmente sensível. Resumindo, um filme de fantasia que não voa.

Sideways: Provavelmente o fato de ser muito melhor que o anterior do diretor levou as pessoas a acharem esse filme um exemplo de humanismo. Não é. De qualquer forma, um road movie simpático, com o grande problema de que, depois de cada cena sincera na qual a obra de Alexander Payne quase te conquista, ela resolve quebrar o clima com uma piada, um plano, enfim, uma sugestão cínica, ficando com cara dos produtos asséticos e agridoces que Hollywood adora. Enfim, parafraseando uma amiga, estou cansado de filmes de amor que não se entregam.

O Aviador: Parece ter virado clichê que o filme do Scorsese é frio e, portanto, medíocre. Discordo totalmente tanto de uma afirmação quanto outra. Uma obra em que cada plano revela uma paixão imensa pelo cinema frio já não pode ser. O Aviador, porém, é muito mais. Reflexão sobre a estrutura da América, sobre a doença e o dinheiro, sobre a solidão, principalmente, sustentam, e bem, as 3 horas de projeção. Se não chega a ser uma obra-prima, é um filme mais que sincero e respeitável de, indiscutivelmente, um dos maiores diretores americanos em atividade. E a equipe do diretor - fotográfo, montadora e sim, atores! - é absurdamente foda. Se o Oscar não quer ver nada disso, bem, eu não vou fechar meus olhos.

Menina de Ouro: Meu favorito dos 4. Um filme onde cada plano revela - muito mais devido à genial direção do que ao número de clichês abundante do roteiro - um sentimento enorme, que transborda da tela e chega, naturalmente, ao espectador. E como todo sentimento, quando exposto em sua verdade, é de uma profundidade imensa, Eastwood nos brinda com um arsenal de infinitos. Filme de amor, sacrifício, sofrimento, onde cada um dos clichês é superado porque de superficial Menina de Ouro não tem nada.

Ray: Como disse, não vi. Mas estou ouvindo e, porra, é do caralho!

Faltaram na premiação Antes do Pôr-do-Sol, Colateral, A Vila e mais uns poucos...mas, comparando o vencedor desse ano com o de Cannes passada, bem, tô com o velhinho careca e não abro.

P.S: Meu caso de ódio com a maratona do Odeon permanece. Dessa vez, meio cinema batendo palmas depois de cada fade out de
Estranhos no Paraíso. Porra, se não queriam ver o filme que dormissem ou voltasse para casa. Tão mais fácil...enfim, mês que vem tô lá para me irritar de novo. Masoquismo perde...

escrito ao som de Ray Charles - Modern Sounds in Country and Western Music

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