quarta-feira, março 02, 2005

"Ciberlinguagem" ou "Porque perdi de vez minha fé no Telecine"

Ok, eu já sei que o Telecine não é para pessoas que gostam de cinema - aliás, eu já deveria saber que canais de tevê não são para pessoas que gostam de cinema. Por causa disso, aceito filmes fora da projeção certa, aceito a aclamação de Rubens Ewald Filho como maior crítico nacional e as suas consequentes mostras de princesinhas do cinema americano em vez de bons diretores, e, com alguma força de vontade, chego a aceitar até a criação do Telecine Pipoca - canal que, confesso, nunca assisti, e pretendo que continue assim. Mas, quando você acha que a querida rede já chegou ao cumulo do ridículo, parece que ela se esforça para te mostrar que é possível afundar ainda mais. Vejamos, quem teve a idéia genial de passar um filme - um filme jovem, diga-se de passagem - com "linguagem da internet"? Isso mesmo, caros leitores, linguagem da internet! Liguei a tevê, sintonizei no TC1, e um quadrinho de computador - esses de programa de bate-papo - ocupava o lugar das legendas ditas normais, com inúmeros "vcs" "agr" "c/" se sucedendo sem parar. Não estou aqui para criticar essa linguagem per se, eu a utilizo também. Mas os programadores inteligentíssimos da empresa resolvem abolir o uso da norma culta - e, como norma que é, igual a todos - para reduzir seu público a um nicho mínimo de pessoas que utiliza esse tipo de escrita, além de contribuir para que esse nicho mínimo não saiba usar qualquer outro. E nem preciso comentar que, por ser uma linguagem variada, a uniformização dela utilizada pelo canal dificulta não só os leigos mas qualquer um que se disponha a ver o filme assim. Eu, por exemplo, tinha de me desligar do filme cada vez que um "agr" aparecia na tela.

Mas fico triste mesmo quando penso que, daqui a 15 anos, verei numa entrevista o Rubinho se achando o gênio absoluto, todo prosa, contando que revolucionou o sistema de legendas com a supracitada ciberlinguagem, agora já moeda corrente em todos os canais. E que eu, infelizmente, já estarei acostumado com tudo isso...

escrito ao som de Gerson King Combo - uma coletânea qualquer

|