sábado, março 12, 2005

Bandeira

George Clinton, o mentor do Funkadelic, compôs uma triste e simples linha melódica de seis notas. Para transformar em uma canção, mandou seu guitarrista, Eddie Hazel, solar em cima dela como se sua mãe tivesse acabado de morrer. Eddie o fez. O resultado ficou tão bonito, pungente e triste que Clinton, na mixagem, apagou o som dos outros instrumentos. Daí nasceu Maggot Brain.

Bob Dylan, em seu melancólico cd Desire, escreveu uma música para sua ex-mulher, da qual ainda era apaixonado. Coincidentemente, na hora de gravá-la, ela surgiu no estúdio, para visitá-lo. Com os olhos embargados e a boca cheia de emoção, Bob cantou como nunca. Desnecessário dizer que cada nota de Sara é uma explosão de sentimentos.

E daí, o caro leitor deve perguntar...bom, primeiro, eu preciso de um post para hoje e as historinhas são interessantes. Além do mais, é sempre útil recomendar novas músicas. Mas o que quero dizer, na verdade, é bem simples. Arte, porra, precisa de paixão, fúria, tristeza, sentimentos! Estou cansado de ver filmes, músicas, etc., feitos no piloto-automático, certinhos, bonitinho, insossos, para agradar papai-e-mamãe-equemsabecomsorteoscríticos. Será que ninguém vê como dá prazer ver uma obra feita com verdadeiro, intenso, prazer? Que o sangue jorrado para compor uma canção sai da boca do intérprete e cala - ou bate -no fundo da alma do ouvinte? Estou cansado da arte que pode dizer muito, mas nada sente. Porque antes da técnica, antes da palavra, a vida precisa de entrega.

escrito ao som de Van Morrison - Astral Weeks

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