Fim
Naquele dia, ele acordou triste e percebeu. Não estava mais apaixonado. Sabia que a partir de então enfrentaria as noites e os dias entediado. Que as tardes seriam nubladas. Que os rostos não seriam mais o dela. E sabia que passaria as horas imaginando como seria se falasse, se dissesse, se confessasse, mas que nunca o faria. E que ela nunca saberia, ele sabia. Sabia que sairia de casa na intenção de deixá-la mas que isso não aconteceria, e que no dia seguinte faria o mesmo, incessantemente. Ele sabia. E sabia que, mesmo não carregando sentimento algum, não poderia escrever, não poderia, nada. Ele sabia e estava triste. E sabia que viveria o resto da vida dentro da dela, sem novas namoradas, sorrindo, sofrendo, esperando alguém. Esperando alguém que não era ela. Mas que ele nunca iria confessar, nunca, de forma alguma, ele sabia. Não estava mais apaixonado e era assim. E que os dois esperariam meses, anos, por outro alguém, ele sabia, mas que a vida era assim mesmo, isso nada significa. E que se, por acaso, um mero acaso feliz, ele sumisse e os dois acabassem, que voltariam, um dia. Voltariam e ele sabia. Ele sabia e estava triste. Mas sabia também que não, eles nunca acabariam, não, ela não esperava por outro, sim, ela era feliz com ele. Ela era feliz e isso o deixava triste. E deixaria, sempre. E ele pensaria em discursos, poesias, romances, mas nunca escreveria, não, nunca, nada. Ele sabia, enfim, que estaria insensível, totalmente insensível, profundamente insensível até que encontrasse um novo amor, mais forte, mais sincero e mais doloroso.
escrito ao som de Elliot Smith - Either/Or
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