terça-feira, agosto 09, 2005

Pequenos drops culturais pt. 1 - Guerra dos Mundos

Até que se prove o contrário, Guerra dos Mundos é o filme subestimado da temporada, e isso vem de um não-fã do Spielberg. Talvez por essa razão me tenha parecido óbvio de que se trata de uma obra paródica não só com a construção dos filmes-catástrofe recentes, mas a própria carreira do diretor. A vitória do bem sobre o mal e a famosa questão familiar mal-resolvida dele são vistas sob um prisma quase humorístico, entrando em cena de forma absurda, tosca, sem contextualização ou verossimilhança, como se ele estivesse dando, em um ato auto-irônico, exatamente aquilo que o público quer ver, mas só por causa disso. Dessa forma, o terceiro ato é basicamente inexistente. Para deixar essa proposta ainda mais explícita, Spielberg "planta" um bando de elementos - a arma, o fato de Cruise ser o melhor guindasteiro do mundo, o pretenso "par romântico" do protagonista, que aparece no meio do filme para sumir um segundo depois - que, basicamente, são abandonados sem mais nem menos, não tendo a menor função na trama. Além disso, interrompe totalmente o ritmo de "Guerra..." no meio para inserir um comentário político - coisa rara em suas obras -, tratando o conservador paranóico americano como um autêntico retardado. Aliás, é dessa parte - certamente a mais chata do filme -, a cena mais inacreditável. Sem nenhuma necessidade, o diretor classe-média, senso comum, politicamente correto, bota no meio do filme uma passagem onde Cruise mata o personagem de Robbins com as próprias mãos, deliberadamente, na frente da filha! Se isso não é paródia, não sei o que é. Ah, leitor, você pode dizer que simplesmente o cara desaprendeu a fazer filmes e errou tudo na hora. Bem, eu não acredito que o peão-mor de Hollywood nos últimos 30 anos seria ingênuo a esse ponto. Além do mais, a primeira metade do filme é realmente boa, com o caos humano promovendo uma atmosfera de destruição e terror, nesse esquema "cada um por si", do qual até o protagonista - sempre anti-herói - participa. Leitor, você pode argumentar, sim, que no fundo o Spielberg parece defender essa ideologia. Mas, leitor, você precisa ser tão chato?

escrito ao som de Guilherme de Brito - Folhas Secas

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