Jornada
Nada é novo em meus sentimentos. Mesmo assim, eu escrevo. Nada tenho a dizer a ninguém, senão que sofro, e sei que o sofrimento de um homem desinteressante não é motivo para que algum leitor incauto perpasse minhas linhas e sinta-se reconfortado. Mesmo assim, eu escrevo. Sei que de palavras repetidas e sentimentos banais as enciclopédias, os dicionários, os livros de auto-ajuda e mesmo os romances mais vagabundos estão cheios, e que de minhas reflexões só sairão as dúvidas mais corriqueiras, as mesmas que qualquer um já teve antes de completar os dez anos de idade. Mesmo assim, eu escrevo. Não pelo reconhecimento, que muito me agradaria mas reconheço ser impossível - visto que sou revestido da mais absoluta mediocridade no manuseio das palavras -; não pela recepção calorosa do leitor, que julgo bastante improvável; não por algum outro motivo mais misterioso ou extravagante. Escrevo porque preciso. E mesmo assim.
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