terça-feira, maio 10, 2005

Anjos Decaídos

Todos meus anjos de barro
Tiram sarro
De mim
Eu tão descrente e descuidado
Andando ao lado
De algum querubim
Com os meus pés calejados
De tanto pisar
Em campos de jasmim

Todos meus anjos tão certos
Espertos
Até demais
Me deixam defronte ao deserto
Achando que eu
Nem vá olhar pra trás
Com minha mente poluída
De tanto engolir
Utopia em lilás

Todos meus anjos de vidro
Saídos
De algum papel
Perguntam se venho de um livro
Um filme ou uma simples
Cama de motel
Com o meu corpo cansado
De tanto rasgar
Pedacinhos do céu

Todos meus anjos da guarda
Que nada!
Eles também são reais
Com facas e garfos à mesa
Esperando a comida
Salivando iguais
Pra poder na madrugada
Regurgitar sonhos
Feito uns canibais

Todos meus anjos de barro e vidro
Molhados
E já dissolvidos
E eu andando por vielas
Buscando a mais bela
Que me dê sentido
Com minha alma absorta
Entre velhos comas
E novos infinitos

E eu com a auréola no peito
Sujeito a alguma
Nuance qualquer
Procuro algum novo sujeito
Que me dê a chance
De encontrar a fé

Um anjo caído na Terra
Perdido entre a guerra
E a lata de lixo
Prostrado em frente aos carros
Catando cigarros
Ou um outro vício

E eu com no peito a aurora
Esperando a hora
De ser jogada fora

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Letra antiga de música, que é pra ver se Naipe Em Braile volta à ativa.

escrito ao som de Isaac Hayes - Shaft

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