sábado, maio 21, 2005

Garçom, aqui nessa mesa de bar...

Tenho uma confissão a fazer: meu espírito, no fundo, fundo mesmo, é brega. No sentido sentimental da palavra, mesmo. Finjo que não, mas tenho profunda admiração por aqueles que mandam a vergonha às favas e choram no meio-fio, ancorados por uma garrafa de cachaça. Que mandam a razão às favas e pensam o dia inteiro na garota que tá dando pro melhor amigo, só porque tá dando pro melhor amigo. Que mandam o senso crítico às favas e cantam, bêbados, a altos brados, Reginaldo Rossi. Cafona sim, e daí? É a alma interiorana brasileira. O blues do sertanejo. Temos de recuperar o samba-canção dos anos 30 e 40, o coração dilacerado, a alma em pedaços. Xô bossa-nova. Essa carioquice não tá com nada...

Mas tô confessando isso porque, um dia, voltando de Nikiti, brincando de fazer jogos de palavras, me saí com essa: "Quando a barca parte, parte meu coração". É brega, eu sei. É clichê. Mas foda-se. Eu curti. E chorei. E sofri. E o importante é que emoções eu vivi.

Taí. "Quando a barca parte, parte meu coração". Vou lá na Biblioteca Nacional registrar e, no caminho de volta, compro uma garrafa de cachaça, abraço um mendigo e, bêbado, saio gritando que Odair José é gênio.

escrito ao som de Luiz Melodia - Pérola Negra

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